segunda-feira, 25 de junho de 2012

Incomoda III

"Meu ídolo morreu O ano era 1989. Morava em Fortaleza/CE. Ainda no junho de minha vida tinha ideais. Como estudante do então 2º grau buscava um ídolo, alguém que pudesse me espelhar para seguir quando adulto. Presente de quinze anos? Sonhava em ganhar a coleção completa de “O Capital”, de Karl Marx. Meu pai arrefeceu meu sonho, disse-me que esses ideais comunistas não tinham futuro, pois não se ganhava dinheiro. Não me deu o presente. Talvez essa insistência de ler pensamentos comunistas tenha sido legado de meu avô, Vivaldo Dantas de Farias, comunista histórico, que, certa feita, me mandou respeitar o seu partido, então o neófito PT. Contentei-me, então, com a leitura do Manifesto Comunista. De ônibus, me dirigir a um colégio secundarista, em um bairro distante da capital Alencarina. No meio de uma imensa multidão vi o meu ídolo da época, “Luiz Inácio Lula da Silva”. Ouvi o seu discurso ao lado de uma plateia de jovens entusiastas como eu. A preleção falava de uma ditadura que tinha acabado de ruir depois de mais de vinte anos de uma nuvem negra sobre o Brasil. Falou-se em um novo modelo de gestão, na qual efetivamente o povo teria voz e vez, o fim da corrupção, a consolidação da nossa incipiente democracia. Ao final do encontro, apertado pela multidão, procurei chegar próximo do ídolo, a fim de que pudesse vê-lo mais de perto. Para minha felicidade, aquele homem me cumprimentou, tocando-me os ombros. Com o passar dos tempos, o meu ídolo chegou à presidência da República. Era o meu sonho que se concretizava. Algumas mudanças foram realizadas, fruto de uma economia que começou a se consolidar com a implantação do plano Real. Aí veio a decepção. Em um país de dimensões continentais, os interesses são muitos, confunde-se o público com o privado. Interesses mesquinhos, de uma minoria, nos três Poderes constituídos, ainda causam profundos males ao povo brasileiro. Para garantir a tal governabilidade, dizem os políticos, há de se fazer acordos políticos com todas as tendências ideológicas, pois só assim se garante a condução de um Governo. Nesta semana, o ídolo que ainda vivia em mim, morreu. Em um encontro para se chegar, a todo custo, ao Poder, tudo aquilo que fora construído no decorrer de uma vida foi esquecido. Conchavos com pessoas que representavam tudo aquilo que rejeitávamos pos cabo aos meus ideais juvenis. Será que não fiz uma leitura correta do pensamento socialista-comunista? Se for assim, não quero mais ganhar O Capital, de Marx." Odemirton Firmino de Oliveira Filho é oficial de Justiça e professor de Direito da Uiversidade Potiguar (UnP-Mossoró)

Um comentário:

Luiz Carlos disse...

Caro Odenirton, aconselho-te, não mais querer ganhar o pacote "O capital" e sim a comprar com seu próprio capital. Leia-o e extraia dele suas verdades.
Nem tanto nem tão pouco, esse é meu lema!
Fazendo uma análise reflexiva de toda a história da humanidade a que se tem registro, ainda não encontrei um ser humano, que tenha exposto uma fórmala que poderia ser a ideal. tudo na terra acontece a seu tempo. A humanidade caminha a passos lentos em sua marcha normal. Todos os grandes pensadores deram sua contribuição. O seu ídolo de outrora jamais conseguirá ser o espelho dos seus descendentes num futuro bem próximo. Aquele menino que saiu da pobresa do interior do Pernambuco, foi GRANDE e precisou ser assim para que a história NÃO seja mentirosa.

Continue sua história, agora renovada de novos ídolos, para que amanhã, tu sejas o ídolo de muitos que seguirão até certo ponto o teu ideário.

Um abraço aos nobres Advogados.